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O Instituto Tavistock tem sua criação datada no ano de 1946.
Ao longo do último século, mas desde o anterior, organizações privadas que buscam promover mudanças na realidade atuam ao redor do mundo.
Institutos, academias, think tanks, organizações não governamentais e outros buscam atuar a partir de demandas que, muitas vezes, estão fora do escopo de ação de estados e empresas.
É nesse sentido que este texto busca apresentar algumas informações gerais sobre um dos mais conhecidos institutos de relações humanas.
Uma introdução ao Instituto Tavistock
De acordo com seu site oficial, o Instituto Tavistok está envolvido “com avaliação e pesquisa-ação, consultoria em desenvolvimento organizacional e mudanças, treinamento executivo e desenvolvimento profissional, tudo em serviço ao apoio a mudanças sustentáveis e aprendizado contínuo.”
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Além disso, explica que o instituto “dedica-se ao estudo das relações humanas com o objetivo de melhorar a vida e as condições de trabalho para todos os seres humanos em suas organizações, comunidades e sociedades amplas e a influência do meio ambiente em todos os seus aspectos na formação ou desenvolvimento do caráter ou capacidade humana.”
Seu papel, como declaram, é o de “conduzir pesquisas e oferecer oportunidades de aprendizado através da experiência para esse fim”.
O instituto também busca “publicar os resultados de tais estudos e pesquisas” a fim de “treinar estudantes em ou para quaisquer ramos do referido estudo.”
Pesquisa e divulgação científica
Com uma história que remonta o pós II Grande Guerra, mas com raízes na I Grande Guerra, o Instituto Tavistok atua em diversos segmentos.
Muitas dessas frentes estão relacionados a pesquisas, produção e divulgação científica, bem como atuação em diversos ramos.
Algo interessante em destacar é que a organização possui um vínculo entre elaboração de políticas públicas e pesquisas.
Não obstante, alguma desinformação já foi divulgada a respeito do instituto.
Aqui, vamos explicar algumas linhas gerais a respeito dele.
História do Instituto Tavistock
A história do Instituto Tavistock remonta a I Guerra Mundial (1914-1918).
Naquele contexto, surgia a chamada Nova Psicologia como uma alternativa aos manicômios, muito presentes em todo mundo desde o século XIX.
A clínica Tavistock foi fundada em 1920 pelo dr. Hugh Crichton-Miller, na qual se aplicava aquilo que ele aprendeu tratando vítimas de traumas durante a I Grande Guerra para dar tratamento a civis com distúrbios mentais.
Nesse contexto, desempenhou papéis fundamentais dentro do exército britânico (TRIST, 1997).
Sigmund Freud e Carl Jung
Apesar de grande parte dos procedimentos terem surgido da experiência de atuação da clínica, é notável a influência das publicações de Sigmund Freud e Carl Jung na sua elaboração.
Tratava-se, a rigor, de uma profunda mudança de paradigma no tratamento de distúrbios mentais graves, que viria a impactar de maneira substantiva no mundo.
Como explicado no início deste texto, o Instituto Tavistock foi criado em 1946. E teve seu funcionamento pleno iniciando-se no ano seguinte.
Trabalhando com colegas do Corpo Médico do Exército Real e do Exército Britânico, foram responsáveis por inovações como o War Office Selection Boards (WOSBs) e Unidades de Reassentamento Civil (CRUs).
Contribuírem também na chamada guerra psicológica naquele contexto.
O Instituto surgiu propriamente do desejo de se continuar os trabalhos e pesquisas desenvolvidos mesmo depois de finalizada a guerra.
Incentivos da Fundação Rockfeller
Um dos seus principais doadores inicialmente foi a Fundação Rockfeller, mas além disso se financiou com taxas cobradas por seus vários cursos oferecidos (TRIST, 1990).
É conhecida a importância do Instituto no sentido de ter se tornado um centro de referência para a disseminação de teorias psicanalíticas influenciadas pelo trabalho de Freud e Jung.
Vários psicanalistas importantes tiveram passagens por ele.
Além disso, muitos de seus membros tornaram-se influentes em órgãos internacionais voltados à saúde, como explica o livro “The Social Engagement of Social Science: A Tavistock Anthology“, publicado em três volumes em 1990:
Campo de atuação do Tavistock
Atualmente, o instituto atua em frentes bastante diversas.
O Instituto Tavistock oferece cursos de pós-graduação em várias áreas, de características mormente interdisciplinares.
Além disso, é notória sua atuação no campo de pesquisas em ciências sociais aplicadas, em diversas áreas, atuando em campos que vão da psicologia ao desenvolvimento sustentável.
Como dito, também presta consultorias voltadas à implementação de políticas públicas das mais diversas.
Promoções artísticas e acadêmicas
Desde 2012, inaugurou um programa voltado ao desenvolvimento de diversas artes, que vão do cinema e dança às artes plásticas, entre diversos setores do campo da cultura (Instituto Tavistock, s/d).
O Instituto Tavistock também conduz duas revistas importantes: a “Human Relations” que teve início em 1947, além da “Evaluation – The International Journal of Theory, Research and Practice”, fundada em 1995.
Ambas apresentam um escopo parecido de publicações, nas quais as reflexões acadêmicas e as aplicações práticas das discussões são objetos centrais de análise (Instituto Tavistock, s/d).
Atuação atrelada às ciências sociais e psicologia
Em suma, o instituto atua com ciências sociais aplicadas e psicologia, além de áreas relacionadas à educação e pesquisa.
Norteia-se com um conceito de aliar pesquisa e aplicação de políticas concretas de alteração das realidades ao redor do mundo.
É conhecido, por exemplo, a chamada Abordagem Sociotécnica do Desenvolvimento Organizacional, que mudou profundamente a forma de organização de trabalho no último quartel do século XX, influenciando muitos modelos de organização do trabalho desenvolvidos desde então.
O termo em si se refere aos trabalhos de intervenção realizados pelos pesquisadores do Instituto Tavistock desde o início da década de 50.
Uma referência nesse assunto é a obra de Elliot Jacques, originalmente publicada na década de 1950.
A obra de Jacques (1972) documenta o processo de intervenção na “Glacier Metal Company“. Nela, o autor critica veementemente a posição tecnocrática de intervenção e propõe uma postura colaboracionista, de terapia social.
O que se vê é uma forma de organização baseada no conhecimento e nas técnicas das ciências sociais para melhor fazer frente a seus problemas.
Assim, se vale de conceitos como cultura, estrutura e personalidade, cruzando-se resultantes das interações destes três componentes.
As teorias conspiratórias do Instituto Tavistock
O Instituto Tavistock, a despeito de sua atuação, é constante alvo de teorias conspiratórias.
As mais conhecidas são tributárias de dois livros específicos: The Tavistock Institute of Human Relations: Shaping the Moral, Spiritual, Cultural and Political (2006), de John Coleman, e o Tavistock Institute: Social Engineering the Masses (2015), de Daniel Estulin.
Segundo essas teorias conspiratórias, o Instituto buscaria tomar a educação dos Estados Unidos a fim de implementar uma agenda totalitária.
O Rock, a música pop, Beatles e Rolling Stones
Para tanto, além da educação formal, os conspiracionistas atribuem ao Tavistock um plano de engenharia social.
Esse plano passaria por moldar a cultura ocidental contra o status quo, usando para tanto o rock e a música pop, além das drogas e diversas subculturas associadas ao público jovem.
É bastante comum ver essa teoria conspiratória associada à popularidade dos Beatles e Rolling Stones.
Instituto Tavistock e os Illuminati
Além disso, há também uma associação a outra teoria conspiratória, segundo a qual o Instituto seria parte de um plano da suposta ordem dos Illuminati para instaurar a chamada “era de aquário” ou “conspiração aquariana”.
De acordo com Jovan Byford e sua teoria crítica sobre os conspiracionismos (2011), é possível identificar nessa construção narrativa elementos de muitas outras teorias conspiratórias, nos quais alteram-se apenas alguns sujeitos.
Elementos como uma suposta conspiração para se destruir uma civilização inteira através da cultura existem desde o século XVIII, por exemplo.
Conclusão
O Instituto Tavistock foi fundado nos anos 1940, tendo suas raízes ainda na Primeira Grande Guerra.
Destacou-se a partir da segunda metade do século XX, difundindo muitos paradigmas de atuação das ciências sociais aplicadas a diversos setores.
Dessa forma, tem seu impacto desde as organizações de trabalho em empresas até na implementação de agendas políticas e políticas públicas. Tem forte atuação no campo da produção científica e educação, além disso.
A despeito de algumas teorias conspiratórias, trata-se hoje de uma das mais importantes organizações voltadas a agir na esfera pública em diversos países no mundo.
Possui uma rica história e um leque bastante vasto de publicações para quem quiser entender sua forma de funcionar, seus conceitos e atuação.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BYFORD, Jovan. Conspiracy theories: A critical introduction. Springer, 2011.
INSTITUTO TAVISTOK. Who we are. s/d. Acesso em 20 jul, 2020.
INSTITUTO TAVISTOK. Our international team of experienced researchers employs a range of research skills to find practical answers to contemporary problems. s/d. Acesso em 20 jul. 2020.
INSTITUTO TAVISTOK. We own the international social sciences jornal Human Relations and host Evaluation. Both journals are published by SAGE. s/d. Acesso em 20 jul. 2020.
JACQUES, E. Intervention et changement dans I’entreprise. Paris: Dunod, 1972.
TRIST, Eric L. The Social Engagement of Social Science: a Tavistock Anthology. Pennsylvania: University of Pennsylvania Press, 1997.
Historiador de formação e comenta sempre sobre política.
Além disso, aprecia uma boa cerveja, rock e metal. É ainda mestre e doutor em História pela UFMG.
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